Sábado, Abril 27, 2024
spot_imgspot_imgspot_imgspot_img
spot_imgspot_imgspot_imgspot_img
InícioEspeciaisMais igrejas que escolas: Brasil está no topo mundial na crença em...

Mais igrejas que escolas: Brasil está no topo mundial na crença em Deus

spot_imgspot_imgspot_imgspot_img

A recente divulgação pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de que o Brasil tem mais estabelecimentos religiosos do que escolas e unidades de saúde remexe em um segundo fator, revelado através de outra pesquisa: 89% da população brasileira acredita em Deus ou em um poder maior. Esse índice coloca o país no topo mundial na crença em um ser superior, ao lado apenas da África do Sul.

Segundo dados do Censo de 2022, existem atualmente no Brasil 579,8 mil endereços com finalidades religiosas contra 264,4 mil estabelecimentos de ensino e 247,5 mil unidades de saúde. Embora sejam consideradas crenças diversas entre os estabelecimentos com fins religiosos, como aquelas presentes em igrejas, templos, centros espíritas e terreiros, por exemplo, a maioria absoluta é formada com base na filosofia do teocentrismo, considerando Deus como o centro do universo.

Do outro lado, a pesquisa Global Religion 2023, realizada em 26 países e publicada no ano passado pelo Instituto Ipsos, coloca o Brasil no primeiro lugar no ranking da crença em Deus. 89% da população declara acreditar em Deus ou em uma força superior, índice igualado somente à África do Sul e pouco acima da Colômbia (86%).

Curiosamente, na outra ponta da tabela estão países com maior desenvolvimento econômico em escala global, como Alemanha (45%); Espanha, França (44%); Grã Bretanha (43%); Bélgica (42%); Suécia (41%); Holanda (40%); Coreia do Sul (33%) e Japão (19%). Nos Estados Unidos, 72% acreditam em Deus ou em uma força superior.

A Global Religion 2023 é baseada em dados coletados entre 20 de janeiro e 3 de fevereiro de 2023, com 19.731 entrevistados. Aproximadamente 1 mil pessoas foram entrevistadas no Brasil (Veja a tabela no final da matéria).

Homenagem a São Jorge, popular entre católicos e umbandistas. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Quando perguntados se seguem especificamente alguma religião, esses mesmos países se mantêm na parte de baixo da tabela, oscilando entre 42% e 56% dos entrevistados. Neste mesmo quesito, o Brasil mantém o patamar elevado (76%), porém abaixo de nações com orientação religiosa predominante fora do cristianismo. É o caso da Índia (99%), Tailândia (98%), Malásia (94%) e Turquia (86%), por exemplo. 70% dos brasileiros se denominam cristãos, índice acima da média global, que é de 61%.

De acordo com o cientista social e professor da Universidade de Blumenau (Furb), Dr. Josué de Souza, uma das explicações para a aparente disparidade entre países com contrastes econômicos quanto à crença em um ser superior pode estar na racionalização da sociedade. “Com o processo de desenvolvimento científico e econômico, as crenças mágicas e religiosas tendem a perder impacto. Os indivíduos passam a resolver os seu problemas a partir dos seus recursos”, explica o professor, que baseou suas pesquisas no mestrado e no doutorado a partir da sociologia da religião.

Apesar da elevada associação com alguma religião no país, somente 49% dos brasileiros afirmam visitar ao menos uma vez ao mês igrejas, templos ou outros locais de culto. A média global dos países pesquisados neste aspecto é de 30%. Nas pontas opostas estão a Índia, com 71%, e o Japão, com apenas 5% de pessoas que declaram frequentar locais religiosos com regularidade. 

Um outro dado revelado pela pesquisa e que chama a atenção pela liderança brasileira é quanto a acreditar que Deus ou forças maiores permitam que as pessoas superem crises. Neste aspecto, 90% dos brasileiros entrevistados afirmaram que os desafios podem ser superados através dessa crença. Na sequência, surgem África do Sul e Colômbia (89%), além de Turquia (87%), Singapura e Peru (84%). Na outra ponta estão Bélgica (58%), Suécia (56%), Coreia do Sul (50%) e Japão (37%).

A explicação para o Brasil estar no topo mundial deste e outros quesitos pode ser explicado pela nossa história, segundo o professor Josué de Souza. O cientista social observa o processo de colonização sofrido pelos brasileiros: “o primeiro ato do colonizador nestas terras foi uma missa. Os territórios regionais também se desenvolveram em torno das dioceses que, em muitas das nossas cidades, foram o marco fundador”.

Fé entre jovens e adultos na periferia brasileira. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

Embora as bases da pesquisa não realizem o cruzamento entre causas e consequências do aspecto religioso da população pesquisada, o estudo revela alguns dados que podem servir como tendência para as próximas gerações.

Os resultados da pesquisa demonstram que a adesão de jovens pertencentes à geração Z (nascidos no início deste século) como praticantes de uma religião é muito menor do que na população adulta no Brasil, especialmente entre os católicos. 38% dos adultos se declaram católicos praticantes, enquanto apenas 23% dos jovens da geração Z declaram o mesmo. Já entre os evangélicos e outros cristãos, o índice entre adultos e jovens diminui, de 29% entre adultos e 26% entre jovens. Os dados manifestam o crescimento das igrejas cristãs não católicas entre o público mais jovem.

Quanto à queda na religiosidade entre católicos jovens no Brasil, o professor Josué de Souza analisa o fato de que as novas gerações “tendem a ter mais acesso à educação”. São jovens, segundo ele, “socializados à partir do conhecimento científico”. Souza, no entanto, adverte que é preciso tomar cuidado porque surge neste processo outras formas de religiosidades, mais fluídas e que combinam elementos de mais de uma religião. Para o professor, “estas gerações também tendem a rejeitar formas autoritárias de dominação e poder. Por isso tendem a ter dificuldade de aliar-se a grupos religiosos tradicionais”.

Sobre a maior adesão de jovens a igrejas evangélicas, revelada pela pesquisa do Instituto Ipsos, Souza afirma que no Brasil, por exemplo, “há uma forte efervescência religiosa de jovens entre grupos neopentecostais, fenômeno presente também nas religiões de matriz africana”.

Confira a tabela com o índice de crença em Deus ou em uma força superior por país:

País%
Brasil89
África do Sul89
Colômbia86
México85
Peru84
Turquia82
Índia81
Chile76
Argentina76
Estados Unidos72
Singapura67
Polônia64
Canadá60
Itália60
Austrália57
Tailândia50
Hungria46
Alemanha45
Espanha44
França44
Grã Bretanha43
Bélgica42
Suécia41
Holanda40
Coreia do Sul33
Japão19
Fonte: Ipsos | Global Religion 2023 | May 2023 | Public

Veja a pesquisa Ipsos completa aqui.

Veja mais sobre o número de igrejas no Brasil: detalhamento de endereços recenseados pelo IBGE

spot_imgspot_imgspot_imgspot_img
spot_imgspot_imgspot_imgspot_img
Arnaldo Zimmermann
Arnaldo Zimmermann é jornalista (Mtb 0005946/SC), com graduação, mestrado e doutorado em Jornalismo. Também possui graduação em Letras e especialização em Administração em Publicidade e Propaganda. É professor universitário desde 2001 e profissional de diversos veículos de comunicação do Vale do Itajaí desde 1985.
Mais Notícias desta Categoria
- Publicidade -spot_imgspot_imgspot_imgspot_img

Últimas Notícias