Quinta-feira, Setembro 12, 2024
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Resíduo de cerveja diminui células de tumor, revela pesquisa realizada em Blumenau

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Uma pesquisa de Doutorado desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental da Universidade Regional de Blumenau (FURB) revelou que a levedura residual do processo de produção de cerveja apresenta uma série de propriedades benéficas à saúde. Testes conduzidos em laboratório mostraram que a levedura residual foi capaz de estimular a produção de células de defesa do organismo e diminuir a viabilidade de células tumorais de pâncreas.

Ensaio clínico realizado com 43 voluntários demonstrou que o consumo de cápsulas produzidas a partir da levedura residual de cerveja melhorou a microbiota intestinal e diminuiu os índices de colesterol de indivíduos saudáveis. O estudo foi conduzido pela pesquisadora Priscila Horn, Doutora em Engenharia Ambiental, sob a orientação dos professores Eduardo Alves de Almeida, Doutor em Bioquímica, e Ana Lúcia Bertarello Zeni, Doutora em Neurociências.

A caracterização química da levedura residual de cerveja revelou que o material é rico em betaglucanas, fibras que controlam os níveis de colesterol e estimulam a imunidade, além de compostos fenólicos, sobretudo os ácidos ferúlico e p-cumárico, associados a atividade anti-inflamatória e anticarcinogênica. A análise da toxicidade do material, realizada em laboratório, mostrou que a levedura residual de cerveja não é prejudicial às células humanas saudáveis, o que indica a segurança de seu uso, além de estimular o aumento de células de defesa.

Quando avaliada em relação a células tumorais de pâncreas, a levedura foi capaz de diminuir a viabilidade de tais células, resultado considerado promissor pela pesquisadora: “ao mesmo tempo em que esse composto reduz a célula tumoral, ele estimula o sistema imune nas células de defesa. Foi um dos resultados que eu considero mais importantes no in vitro, tanto pela questão de o câncer de pâncreas ser de difícil remissão, quanto por se tratar de um resíduo que em pequena quantidade já foi capaz de diminuir a viabilidade”, ressalta a pesquisadora. Estudos adicionais seriam necessários para compreender o potencial efeito antitumoral sobre organismos vivos.

A constatação de que o composto não é prejudicial às células saudáveis, viabilizou a realização do ensaio clínico, etapa da pesquisa que envolve a participação de seres humanos. O estudo concluiu que o consumo de cápsulas produzidas a partir da levedura residual melhorou a microbiota intestinal dos participantes, aumentando a concentração de bactérias benéficas e diminuindo a quantidade de bactérias patogênicas.

Na avaliação da pesquisadora, tais resultados apontam para o potencial de uso da levedura residual de cerveja como suplemento prebiótico, uma espécie de alimento para as bactérias benéficas que compõem a microbiota intestinal. O estudo identificou, ainda, diminuição nos níveis de colesterol dos indivíduos que consumiram as cápsulas.

O interesse de Horn pelo processo de produção de cerveja começou ainda durante o Mestrado em Engenharia Química, quando avaliou como os compostos presentes na cerveja, como malte e lúpulo, se comportam quimicamente ao longo do processo produtivo. A atividade antioxidante da levedura residual chamou a atenção da pesquisadora, que decidiu aprofundar o conhecimento sobre suas propriedades por meio de sua pesquisa de Doutorado em Engenharia Ambiental. O objetivo é fornecer subsídios para que o resíduo possa ser aproveitado de forma mais nobre, gerando benefícios à saúde e adicionando valor à cadeia produtiva da cerveja.

A levedura residual de cerveja é um subproduto do processo de produção de cerveja. O material é frequentemente aproveitado para alimentar animais, mas o descarte em aterros sanitários também é um destino comum, já que a quantidade de resíduo gerada é maior do que sua demanda como alimentação animal. Segundo a pesquisadora, cerca de 40 toneladas mensais de levedura residual são geradas apenas nas cervejarias artesanais de Santa Catarina.

Como a pesquisa foi realizada

O processo de pesquisa conduzido por Horn foi realizado em duas etapas: o estudo in vitro, realizado com células humanas em laboratório, e o estudo in vivo, também chamado de ensaio clínico, com a participação de seres humanos. O estudo in vitro utilizou monócitos, um tipo de célula humana de defesa, para avaliar a toxicidade da levedura residual de cerveja e concluiu que a substância é segura para células saudáveis, mas prejudicial para células tumorais de pâncreas.

O ensaio clínico contou com a participação de 50 voluntários saudáveis (homens e mulheres, de 18 a 60 anos). A pesquisadora explica que o ensaio clínico é uma etapa que objetiva observar os efeitos e a segurança de uma determinada substância no organismo humano e é inicialmente realizada com um pequeno número de indivíduos saudáveis. Antes de iniciarem o tratamento, os voluntários tiveram amostras de sangue coletadas para viabilizar a posterior comparação dos parâmetros bioquímicos.

Dos 50 voluntários inicialmente selecionados, 43 concluíram o ensaio. Os demais indivíduos foram retirados do estudo por terem contraído Covid-19 ou por precisarem fazer uso de antibióticos e anti-inflamatórios, medicamentos que naturalmente alteram a microbiota intestinal.

Os voluntários foram divididos em dois grupos de forma aleatória: um grupo recebeu as cápsulas contendo levedura residual de cerveja e o outro recebeu cápsulas de placebo. Nessa etapa, nem pesquisadores, nem voluntários sabiam se estavam consumindo levedura ou placebo, motivo pelo qual o ensaio conduzido por Horn é classificado como randomizado duplo-cego. Os voluntários consumiram as cápsulas fornecidas pela pesquisadora uma vez ao dia, ao longo de 30 dias, e foram orientados a preencher um formulário sobre possíveis efeitos adversos, além de um diário do funcionamento intestinal. Nenhum efeito adverso foi relatado durante o ensaio.

Exames coletados após o período de tratamento revelaram melhora significativa na microbiota intestinal dos voluntários que receberam as cápsulas de levedura residual de cerveja, com o aumento das bactérias benéficas e a diminuição das bactérias patogênicas, além da diminuição dos níveis de colesterol dos indivíduos tratados. 

O processo de pesquisa contou com a colaboração de professores de diversas áreas e utilizou a estrutura dos Laboratório de Avaliação de Substâncias Bioativas e do Centro de Estudos em Toxicologia Aquática (Cetaq) da FURB, além de parcerias externas com laboratórios do campus Curitibanos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e da Universidade de São Paulo (USP). A levedura residual utilizada no estudo foi fornecida pela Cervejaria Blumenau.

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Redação
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