Para uma geração que amava futebol e havia nascido após o final dos anos 1960, o jejum de 24 anos sem a conquista de uma Copa do Mundo parecia ser uma eternidade. Ouvíamos os pais, tios, avós, todos contando, com emoção, as magníficas atuações de Pelé, Garrincha, Didi, Jairzinho e outros tantos. Contavam como era ver – ou ouvir – a seleção brasileira de futebol levantando a taça de melhor do mundo.
Nem a fantástica e histórica seleção de Telê Santana de 1982 foi o suficiente para que uma geração apaixonada pudesse dar seu grito final. Ele precisou ficar entalado por mais doze anos, até que surgiu um despretensioso grupo… é, aquele mesmo, aquele que havia até perdido para a Bolívia nas eliminatórias e se classificado para o mundial somente na última rodada, alfinetando dúvidas na cabeça de milhões de brasileiros esperançosos.
Era o ano de 1994. O ano do Plano Real. O ano triste da perda de um ídolo icônico da Fórmula 1. Mas um ano que entrou definitivamente na história do futebol brasileiro.
Era 17 de julho, na Califórnia, naquele país que parecia não se interessar por futebol (Estados Unidos), que um grupo de liderados por Carlos Alberto Parreira pôs fim ao jejum de 24 anos. Mas não foi sem sofrimento na partida final. Diferente do título posterior, do penta, com um ataque de Ronaldo e Rivaldo praticamente esnobando a Alemanha na final, tínhamos ali, em 1994, uma Itália que saía de sua espreita. Ah, como sempre a Itália, que se arrasta ao longo do torneio para depois nos roubar sonhos.
Mas não daquela vez.
Sem a imponência de Romário e Bebeto como nas partidas anteriores, tivemos um suado, truncado e angustiante espaço de tempo de 120 minutos de jogo e prorrogação sem gols, o que fazia o coração acelerar a cada vez que a bola quicava na nossa defesa (apesar de… Ufa! termos Taffarel).
E então que chega a disputa por pênaltis. A primeira da história dos mundiais em uma decisão. Aos bem mais antigos torcedores, surgiam flashes aleatórios de 1950 em suas mentes, amparadas por 1958, 1962 e 1970. Para a nossa geração, ainda sem título, o fantasma de 1982 ainda era assustador. Mas para espantar a assombração não precisamos apenas de heróis. Tivemos o anti-herói mais inesperado de todos: Roberto Baggio.
Após a estrela de Taffarel ter brilhado na defesa da quarta cobrança da Itália e do firme capitão Dunga ter convertido para o Brasil, chega o Baggio, com a cena que ficou eternizada no futebol mundial, com uma bola lançada por cima do travessão, parando lá na arquibancada.
Mas deixemos a tristeza daquele momento para os italianos. Era a nossa vez. Era o brado de campeão que desentalava da garganta de 160 milhões de brasileiros. Todos gritávamos “É Tééétraaa” junto com Galvão, com os pulos de Arnaldo e das lágrimas de Pelé. Alguns dos nossos choraram, outros abraçaram até os estranhos na mesa ao lado, e muitos, mas muitos suspiraram de alívio e de emoção.
De um tempo em que as ruas enchiam a cada vitória do Brasil nas copas. De uma era em que aquele momento do futebol era o que unia os diferentes nas ideologias, nas classes sociais, nas rivalidades dos clubes. Porque aquele momento era um momento muito Brasil. Um Brasil ainda da TV de tubo, sem internet, de poucos celulares, de cerveja barata no bar da esquina, mas que soltávamos a plenos pulmões para o mundo inteiro de que futebol era a nossa arte.
E por incrível que possa parecer, essa não é uma história apenas sobre futebol.